Intenção foi sensibilizar os profissionais para garantir atendimento adequado para gays e transgêneros do município
A Coordenaria de Diversidade Sexual de Mesquita promoveu nesta segunda-feira, dia 19, uma roda de conversa específica para profissionais da rede municipal de saúde. Antecipando as homenagens ao Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, comemorado em 29 de agosto, o auditório da Clínica da Família Jacutinga foi palco para um bate-papo que reuniu médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes comunitários de saúde e outros funcionários da prefeitura. A intenção foi sensibilizar o grupo sobre uma questão que tem preocupado Paulinha Única, a coordenadora de Diversidade Sexual de Mesquita.
“Saúde é um direito de todos e é dever do município garantir a atenção básica de seus cidadãos e cidadãs. Mas muitos pacientes, com medo de sofrerem transfobia ou homofobia, não procuram as unidades de saúde. Além disso, alguns se sentem desrespeitados quando não são tratados da maneira esperada. É para garantir a qualidade de vida desses indivíduos que queremos alertar os profissionais de saúde. Do contrário, corremos o risco de afastar ainda mais esse público”, alerta Paulinha.
A decisão por iniciar as homenagens ao Dia Nacional da Visibilidade Lésbica com esse evento não foi à toa. Paulinha garante que já ouviu queixas de lésbicas e homens trans a respeito do tratamento recebido em unidades públicas de saúde. Por isso mesmo, convidou um homem trans, Pablo Henrique Sant, para dar seu depoimento durante o encontro. “Nós até já lemos e ouvimos muito sobre as questões técnicas ligadas a esse assunto. Mas nada como ouvir o relato de alguém que, diariamente, enfrenta isso. Acho que esse pode ser o maior diferencial dessa nossa conversa de hoje”, observou Erika Rangel, secretária municipal de Assistência Social de Mesquita, presente na ação. Além de Pablo, Thaylla Varggas, mulher trans, também deu seu depoimento para os participantes.
Na pele
Estudante de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Pablo é pesquisador nas áreas de gênero e sexualidade. Durante seu depoimento, ele reforçou a importância de chamar homens e mulheres trans pelo nome que eles desejam. “Usar o nome do RG para um trans pode ser o mesmo que chamar um indivíduo cisgênero por aquele apelido constrangedor, que ele detesta e não quer ouvir de jeito nenhum”, exemplificou. Além disso, Pablo tocou em outro ponto importante, propondo uma reflexão. “Quando você é um trans, desenvolve muitas vezes uma repulsa pelo seu órgão genital. Sim, porque quando alguém quer atacar você, é ele que usam. Dizem que se você tem uma vagina, é mulher. Ou que se você tem um pênis, é homem. Então, isso dificulta ainda mais a questão do tratamento ginecológico adequado a homens trans. Algo que, vale frisar, é importantíssimo”, disse ele.
Amor ao próximo
Antes de Pablo falar, os presentes acompanharam uma apresentação feita pela educadora em Saúde Sexual e Reprodutiva, Regina Bueno. De forma bem descontraída e leve, ela tentou, o tempo todo, instigar os participantes da roda de conversa a se colocarem no lugar dos homossexuais e das pessoas trans. “Parece que você está fora do mundo, que ele não pode te recepcionar. Mas, gente, qualquer ser humano que nasce com vida é um cidadão de direito”, alertou ela.
Subsecretário de Direitos Humanos de Mesquita, Rossini engrossou o coro na luta contra o preconceito. “É importante que a gente desconstrua essa imagem errada que existe no Brasil sobre os Direitos Humanos. Não é algo criado para defender bandidos. São direitos inerentes a todos os seres humanos, e isso independe da raça, da orientação sexual, da nacionalidade ou etnia, do idioma que fala, religião que segue ou de qualquer outra condição. Precisamos garantir o respeito a todos”, frisou.
Outras unidades
Apesar de ter sido aberta a todos os funcionários da rede municipal de Saúde Mesquita, a roda de conversa realizada na Clínica da Família Jacutinga não deve ser a única promovida nesse tema. Paulinha Única pretende inserir na agenda de outras unidades. “Fiquei bastante impressionada com a quantidade de gente que veio. Minha intenção é realizar uma em cada clínica da família, nas UBS e outros espaços de saúde de Mesquita. Até porque a gente sabe que nem todo mundo que queria conseguiu vir”, adiantou.