Com campanha nas redes sociais e extensa programação, cidade entra na luta pelo combate à discriminação
“Você tem traços tão bonitos, nem parece negra”, diz um cartaz. “Deve sambar como ninguém, você é preta”, exibe outro. “É preto, mas é cheiroso”, lê-se em outra placa. As frases foram escritas, de próprio punho, por moradores de Mesquita. Convidados a refletir sobre que expressões racistas já ouviram, ou se deparam com alguma frequência, mais de 40 deles responderam e levaram os dizeres como estes para o papel. Todos foram fotografados num ensaio produzido pela Coordenadoria Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR) que será publicado nas plataformas digitais oficiais da prefeitura. O ensaio recebeu o nome de “Tire o racismo do seu vocabulário”. A ação marca a adesão da prefeitura de Mesquita à campanha nacional dos 21 dias de Ativismo contra o Racismo, criada para chamar atenção para o 21 de março, celebrado como o Dia Internacional contra a Discriminação Racial.
As fotos serão publicadas, uma a cada dia, entre esta quinta-feira (07/03) e o dia 28, no Facebook e no Instagram da prefeitura de Mesquita. As placas manuscritas serão reunidas numa exposição itinerante, que a partir da próxima segunda-feira (11/03), percorrerá as escolas das redes pública e privada, o saguão da sede municipal, a Praça da Revolução – em Edson Passos, o Centro Cultural Mister Watkins e as estações de trem que ficam na cidade, levando a mensagem de combate à discriminação.
“A ideia do ensaio fotográfico não é nova, já aconteceu em outros locais. Mas tem um grande diferencial: todos os “modelos” se apresentam anonimamente, também para reforçar a ideia de que o respeito deve ser dado a qualquer negro não importando seu nome, sobrenome, escolaridade, profissão e lugar de origem”, definiu Claudio Macalé, coordenador da Promoção da Igualdade Racial.
Segundo o Censo de 2010 do IBGE, Mesquita é proporcionalmente a cidade com a maior população negra do Estado do Rio. No levantamento, 65% dos moradores se autodeclararam pretos ou pardos.
Para incentivar ainda mais a desconstrução deste racismo estrutural, repetido muitas vezes tão naturalmente que os seus autores nem chegam a perceber, uma roda de conversas com alunos de escolas públicas de Mesquita também acontecerá dia 14 de março no Centro Cultural Mister Watkins, às 14h. Leonardo dos Santos, jovem que foi preso recentemente por um crime que não cometeu em Guaratiba, no Rio de Janeiro, será o principal palestrante do dia. O jovem destacará a importância da família na formação do negro nos dias atuais.
A programação, destes 21 dias de Ativismo contra o Racismo, inclui ainda a exibição do filme ‘’Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil’’, outra vez no Centro Cultural Mister Watkins. Na plateia estarão adolescentes e jovens de escolas municipais e estaduais de Mesquita. O filme é um documentário de 2016 que conta a história de Aloisio Silva, um menino que foi escravizado em uma fazenda no município de Campina do Monte Alegre, no Estado de São Paulo, por fazendeiros-empresários brasileiros da família Rocha Miranda, que eram simpatizantes do nazismo e participantes da cúpula da Ação Integralista Brasileira, na década de 1930. Além dele outros 50 meninos negros foram retirados de um orfanato para serem escravizados. A exibição acontecerá no dia 21 de março.